A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) deflagraram nesta quinta-feira (01/09) a Operação Pandora, para desarticular as atividades de milicianos remanescentes da “Liga da Justiça”. No total, 17 pessoas tiveram a prisão preventiva requerida pelo GAECO e foram denunciados à Justiça para que respondam por formação de quadrilha para a prática de crimes hediondos.
De acordo com a denúncia, o policial aposentado Anisio de Souza Bastos, lotado na Corregedoria Interna da Polícia Civil (COINPOL), e teve a preventiva decretada, agia como “agente infiltrado” na Corregedoria e fornecia aos comparsas informações sigilosas sobre as rotinas e operações policiais. Também seria incumbido de provocar a realização de operações contra a milícia rival (“Comando Chico Bala”) e de prender seus integrantes, inclusive com base em informações repassadas pela “Liga da Justiça”. Em entrevista coletiva na Academia de Polícia (ACADEPOL), o Promotor do GAECO Marcus Vinicius Moraes Leite revelou que o ex-integrante da COINPOL recebia cerca de R$ 40 mil por mês para repassar as informações.
“A investigação comprovou que a engrenagem desta milícia é grande, com centenas de pessoas envolvidas. Por isso, o combate à organização criminosa demanda um esforço contínuo”, acrescentou o Promotor de Justiça.
A operação foi deflagrada às 6h, com apoio da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança e da Corregedoria Geral Unificada. Além das prisões, 150 policiais civis cumpriram em 33 endereços mandados de busca e apreensão requeridos pelo GAECO e expedidos pela 42ª Vara Criminal da Capital. Foram recolhidos cerca de R$ 45 mil (R$ 33 mil em dinheiro e o restante em cheques), uma pistola, três carregadores de munição, um carro Ford Ecosport, computadores, máquina de contar dinheiro, documentos e material relacionado a caça-níqueis.
A milícia, de acordo com a denúncia, continua agindo em localidades da Zona Oeste como Campo Grande, Cosmos, Inhoaíba, Paciência e Santíssimo. Entre as atividades criminosas citadas estão homicídios qualificados, extorsões, espancamentos, sequestros, torturas e porte ilegal de armas de fogo. A quadrilha, segundo o GAECO, lucra com a cobrança de taxas de moradores, comerciantes e pessoas dedicadas ao transporte alternativo (vans e mototaxis). Monopoliza ainda o comércio de gás natural veicular (GNV), botijões de gás e TV a cabo (gatonet). Com o dinheiro arrecadado, foram comprados veículos de luxo, lanchas e imóveis, diz a denúncia.
Toni Angelo Souza de Aguiar, conhecido como “Erótico”, também está entre os denunciados com prisão preventiva decretada pela 42ª Vara Criminal da Capital. Segundo a denúncia, ele é o líder do bando. Atualmente foragido, Angelo é apontado como o responsável por coordenar a atuação dos demais, sem deixar de participar de empreitadas criminosas e homicídios. Michel Cunha de Carvalho (Michel Baleia), atualmente preso, é homem de confiança de Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, atuando no gerenciamento dos lucros e nas extorsões.
O Promotor ressaltou também que alguns integrantes do bando continuavam a gerenciar as atividades mesmo estando presos. Este seria o caso de Carlos Ari Ribeiro (Carlão), recentemente expulso da Polícia Militar. Ele foi preso em flagrante em junho de 2010 com uma pistola que, segundo exame balístico, foi usada em diversos homicídios. De acordo com a investigação, ele e Ivo Mattos da Costa Junior (Tomate), também preso e expulso da corporação, fizeram ligações de dentro do Batalhão Especial Prisional (BEP) para coordenar extorsões.
Assassinato de testemunhas
Ao defender a necessidade da prisão preventiva dos denunciados, o GAECO afirma que, após a deflagração de outra ação penal, em 2009, os denunciados e outros comparsas assassinaram a testemunha Leonardo Baring e chacinaram quatro membros da família da testemunha Vicente de Souza Junior (incluindo seu pai, de 90 anos, cujo cadáver foi encontrado em um cemitério clandestino, algemado e com sinais de tortura).
“Isso demonstra que tais indivíduos não medirão consequências para salvaguardar seus interesses escusos, ainda que à custa de muito sangue e do escárnio às Instituições”, diz o texto da denúncia.
“Além de extremamente violentas, as milícias provocam perda da confiança da população em relação ao poder público. A Operação Pandora demonstra que a Secretaria de Segurança e o Ministério Público, por meio do GAECO, não vão dar trégua no combate a estas organizações criminosas”, afirmou o Delegado Titular da DRACO, Alexandre Capote, durante a entrevista coletiva. O Coordenador do GAECO, Promotor de Justiça Claudio Varela, também participou da apresentação do balanço da operação.